quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Tinta escorrida



Estou tentando esquecer as coisas que não me fizeram bem, as pessoas que me magoaram e os conflitos que enfrentei. Estou sorrindo ao lembrar das piadas, dos momentos que tanto me fizeram bem e das pessoas que amei. Estou me desmanchando em cores de um quadro que não terminei de pintar, escorrendo pela tela lentamente feito lágrima no rosto de criança que perdeu o brinquedo que ama. Estou estático feito boneco de cera, apenas observando tudo ao meu redor, apenas absorvendo tudo e guardando em meu coração de plástico.
Já não tenho mais a certeza se me amas, não posso afirmar se me queres, tenho dúvidas se ainda me deseja. O que sou para ti é incerto. Me perdi, encontrei novos caminhos. Me esqueci, escrevi novos roteiros. Me odiei, busquei novos amores. Minha essência permanece a mesma, pois as coisas sempre são iguais. Já reparou que tudo acontece por igual mas de formas diferentes? Um dia de chuva nunca é igual ao outro, mas é algo conhecido por nós, afinal sabemos o que é a chuva. A dor de um amor também nunca é igual a outra, mas é sempre a mesma coisa e eu sempre estou vivendo dessas mesmas coisas sem me dar conta de que a ilusão de que o "amanhã" vai ser diferente, é em vão. O que muda são as sensações.
Eu não quero mais esperar nada para o meu futuro, apenas desejar. Mas logo questiono-me: Se desejo, também espero? Talvez não, pois há uma diferença entre desejar e esperar, mas isso é bem contraditório, afinal se desejo é porque estou esperando concretizar.
Permaneço aqui, nesta sala em que tu me deixaste ainda estático apenas obervando o movimento, sem poder fazer nada, sem poder falar nada, apenas te observando, vendo seus atos e morrendo por dentro e nada posso fazer, absolutamente nada! O silêncio me é corrosivo e desta forma vou definhando. Você não me olha, pois para ti tornei-me apenas um quadro feio de tinta escorrida.

Bruno Akimoto
30/12/2009

Feliz ano novo, e que venha um 2010 melhor...
Bruno Akimoto e Caio Polonini

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

O natal é mentira



Já é véspera de natal, e eu estou triste... todo ano é a mesma coisa, parece que todos me chateiam com seu egoísmo. Sou singular, não aceito isso, mas me conformo. Se me ama porque não se sacrifica por mim? Será que não sou digno de tal ato? Eu me sacrifiquei por você, perdi o que não tinha na ilusão de ser reconhecido, e hoje vazio de tudo, não tenho seu olhar, e o pior de tudo é saber que não tenho o seu sacrifício. Você julga tanto o amor, banaliza ele pra mim e eu, no meu silêncio, aceito sua mentira com dor no coração, pois pelos outros você é capaz de atravessar os mares, e por mim nem se quer um remo procuras para me ajudar. Estou afundando cada dia mais, perdendo meu oxigênio a cada segundo, deixando a água dominar meu corpo, minha mente e meu coração que hoje encontra-se nas profundezas.
Continue vivendo sua mentira chamada de vida, e me deixe de vez, pois mesmo que seja em lembranças tristes, os naufrágios jamais são esquecidos.

Bruno Akimoto
24/12/2009

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Último instante



Demorei a pegar no sono, não conseguia me entregar por inteiro ao meu estado ordinário de consciência e o motivo é em partes oculto. A escuridão é profunda, mas não a do ambiente em que estou no momento, me refiro ao meu interior que ultimamente é mais obscuro do que o breu da noite e eu inutilmente tento enxergar algo. Estou tateando em busca de um objeto para me fazer companhia, para que eu não me sinta totalmente desesperado e solitário. Estou procurando por inspiração e acho que só Clarice pode me ajudar.
Sinto seu cheiro exalando pelo ar, é inevitável omitir o que sinto, é imprescindível o meu desejo, é agoniante minha vontade, é dilacerada a minha compulsão, e enfim é assassinada a minha paixão. Não compreendo o motivo de permanecer estático quando falo em dor, talvez seja porque eu vivo dela e isso não seja mais novidade para mim, porém não quer dizer que eu não a sinta e que eu não sofra com dores que me acordam em meio de um sonho fisgando meu corpo, minha alma e meu coração.
Escrever não é a solução para todos os meus problemas, as pessoas têm uma visão errada de mim, de como sou e penso, de onde estou e para onde vou. Poucos me compreendem. Minha confusão mental é grande e eu não a causo sozinho, pois ela pode ser causada por qualquer coisa, pode ser estimulada por qualquer mudança, mas eu não faço isso só, pois mesmo que eu me sinta incompleto, não estou sozinho no mundo. Descobri que devo correr atrás das borboletas, afinal elas não param de voar e isso é constante, pois se me deito ao sol e deixo a vida passar, ela simplesmente passa, eu não deixo de sobreviver por isso, mas parado não vou a lugar algum e minha vida passa.
Ouço vozes me dizendo absurdos, conflitos entre minha voz com a tua são gritantes e por pouco não te abandono falando com as paredes, eu sigo o que penso ser melhor para mim, mesmo que no futuro eu descubra que errei, pelo menos segui aquilo que meu coração julgou ser bom. Quem tem a razão? Quem está certo a ponto de me impedir em fazer algo? Você ou eu? Nunca vi tanto questionamento e mais uma vez me pergunto até onde tudo isso vale a pena.
Estou sentindo sono, creio que logo me entregarei e estarei rendido à profundidade obscura que me impede de pensar no que não quero e que me desliga da realidade. Eu não posso controlar o meu amor, ele brota onde menos espero, e uma vez que nasce dificilmente morre, pois quando amo sou intenso e verdadeiro, cultivo com toda cautela feito flor preciosa e rara, pois é único e resistente, mas se um dia você decidir matá-lo, não tente reconquistar, pois retomá-lo é tão amargo que mataria a ti também. Não morra por mim, deixe que eu mate você, assim, aos pouquinhos, devagarzinho... Quando enfim eu constatar teu óbito, morrerei também, seria como viver a história final de Romeu e Julieta.
Estou chegando ao meu limite, saturado de tanto sentir coisas, cansado de tanto carregar mágoas, enfim chega o momento do descanso. Fecharei meus olhos e lembrarei do gosto de sua boca, talvez essa seja a última sensação que eu tenha antes de partir.

Caio Polonini
14/12/2009

sábado, 12 de dezembro de 2009

Capítulo




Se as coisas tomarem rumos previsíveis, não te assustes, pois descobri que doces também amargam e flores também morrem. Não te espantes se um dia acordar e eu ter partido, é apenas o meu silêncio dizendo o que eu não consegui. Quando sentir minha falta, apenas tenha em tua lembrança coisas boas e carregue meu sorriso em teu coração. Se eu partir, não pense que foi algo previsível, pois quanto mais vivo nessa gangorra de sentimentos, mais tenho medo de cair e me machucar. Feridas são normais, ardem no momento, sangram e mesmo deixando leves cicatrizes, elas vão embora. Já estanquei meu sangue quando fervia, já sequei lágrimas quando ardiam, já morri e nasci diversas vezes feito fênix, que em suas cinzas sempre ranasce. O passado é por muitas vezes marcante, não se pode apagar algumas coisas. Estou procurando me controlar para não viver de nostalgia, de lembrar o que vivi de errado, de morrer pelo o que já passou. Por mais complicado que seja o coração eu aprendi a ter compaixão e estou me esforçando a aceitar a vida como ela é, embora isso ainda me espante muito. Estou assustado feito bicho do mato, escondido entre minhas escritas e com medo, escrevendo, tentando criar um novo enredo pro meu romance, porém não sei ao certo até quando escreverei, pois pra cada amor eu criei um capítulo, uns já concluí e outros creio que não conseguirei dar um ponto final, pois levarei comigo quando partir, talvez isso seja essencial.

Caio Polonini
12/12/2009

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Quebra cabeça




O que sinto neste momento é inexplicável, as palavras não podem traduzir tamanha confusão em mim. Quando chego a uma conclusão e enfim me sinto aliviado, logo a mão que coordena meu coração bagunça tudo feito um quebra-cabeça semi montado sendo destruído por completo. As peças misturam-se de tal forma que jamais se reencontram do mesmo jeito e na mesma sequência. Estou em um momento em que decidi me reiventar, mas quando decido o caminho a seguir, sou obrigado a desviar de pedras tortuosas que por muitas vezes me deixam feridas, e mesmo sangrando eu não desisto de seguir, mesmo aos prantos, não tenho medo de morrer, pois quando isso acontecer, apenas lamentarei por tudo aquilo que não vivi.
Estou extasiado com coisas que aprendi, sorrindo e sentindo saudades. Foi assim que você me deixou aqui em meu mundo vazio em que eu vivia sozinho. Você me trouxe alegria, a coisa certa que eu nunca tive, mas acabou... aquela teoria de que tudo dura o tempo suficiente para se tornar inesquecível se concretiza e eu chego a triste realidade que tudo tem um fim. Esta noite irei dormir sem seu desejo de que ela seja boa, e amanhecerei sem seu rosto angelical, sem seu sorriso matinal. Apenas me resta a conscientização de que tudo chegou ao final.
Me deixe partir enfim, preciso salvar o que ainda resta em mim...

Caio Polonini
06/12/2009

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Deixa-me




Já amanheceu, deixa-me lentamente, devagarzinho, assim que é para eu não sentir de uma vez, que é para eu não perceber logo de cara, que é pra eu me conformar, que é pra eu aprender a me sustentar sem cair. Meu pote de mágoa está cheio, e qualquer descuido pode ser a gota d’água, por isso peço para que me mate de uma vez, prefiro isso a ficar nessa agonia constante de incertezas delirantes. Olha o tempo que passa, olha a marca que fica e faz rima, olha a renda que cai, do vestido da menina. Está tudo acabando, e nada posso fazer a não ser observar a despedida que me apunhala o peito me fazendo dar gritos silenciosos de dores que não existem, que foram criadas e costuradas com linha transparente em meu corpo. Quando fecho meus olhos posso sonhar com você, e tudo fica tão sensível a ponto de eu ouvir a agulha que cai no chão fazer eco, estourando meus tímpanos, me fazendo sentir o toque, o cheiro e o gosto do que pode ser a gota d’água, apenas isso e mais nada. A voz me falta para o desfecho de tudo, e nesse momento procuro meu rumo, perdido, sozinho. Deixa-me aos poucos, feito viajante que não para em lugar algum, feito passarinho deixando o ninho, feito menino que deixa a infância, deixa-me lentamente, devagarzinho, assim, que é para eu não perder o costume de te olhar e me perder no mel, que meu coração é assim fraquinho e não pode se emocionar. Deixa-me então, se decidiu assim, ai de mim! Se tu partires, peço-te que não voltes mais, pois sou capaz de não resistir e desfalecer sem ter oportunidade de voltar atrás.

Caio Polonini
01/12/2009