quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Saudade

Saudade – palavra doce,
Que traduz tanto amargor,
Saudade é como se fosse
cheirando a flor.

Saudade – ventura ausente,
Um bem que longe se vê,
Uma dor que o peito sente,
Sem saber como e porquê.

Um desejo de estar perto,
De quem está longe de nós;
Um ai que não sei ao certo
Se é um suspiro ou uma voz.

Um sorriso de tristeza,
Um soluço de alegria,
O suplício da incerteza
Que uma esperança alivia.

Nessas três sílabas há de
Caber toda uma canção,
Bendita a dor da saudade
Que faz bem ao coração.

Um longo olhar que se lança
Numa carta ou numa flor;
Saudade, irmã da esperança,
Saudade, filha do amor.

Uma palavra tão breve,
Mas tão longe de sentir!
E há tanta gente que a escreve
E a não sabe traduzir.

Gosto amargo de infelizes
Foi como a chamou Garret;
Coração calado, dizes
Num suspiro o que ela é.

A palavra é bem pequena,
Mas diz tanto, de uma vez!
Por ela valeu a pena
Inventar-se o português.

Saudade – um suspiro, uma ânsia,
Uma vontade de ver
A quem nos vê, a distância,
Com olhos de bem querer.

A saudade é calculada,
Por algarismos também:
Distância multiplicada,
Pelo fator – querer bem.

A alma gela-se de tédio,
Enchem-se os olhos de ardor.
Saudade – dor que é remédio
Remédio que aumenta a dor.

(Bastos Tigre)

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Talvez, nada mais.

Eu parei de contar o tempo e já não sei mais nada. Não sei mais agradecer, me despedir, odiar, esquecer ou deixar de sentir falta. É impossível não deixar rastros pelos caminhos que fazemos em nossa vida. Há marcas que ficam para sempre, e mesmo que percam a intensidade, são para sempre.
Eu não sei mais que horas são, apenas sinto que estou atrasado e que não adianta mais correr. Não faço idéia de que dia é hoje, talvez seja meu aniversário, ou dia de comemorar uma outra coisa qualquer, mas isso não tem mais sentido.
Já não sei mais quem eu sou, me perdi no tempo, fiquei preso no passado, pois estou morto no presente e nasci para o futuro. Sou outra pessoa. Sou mais amargo, menos feliz, mais inquieto, menos esperançoso. Sou mais e menos ao mesmo tempo. Sou uma sombra do que fui e do que serei em um futuro próximo. A cada segundo um futuro novo nasce e morre.
Esta minha variação inconstante me incomoda, mas ao mesmo tempo me agrada, pois nunca sou sempre o mesmo.
Talvez tudo poderia ser diferente, tomar outro rumo, ter outras cores, formas e sabores. Talvez a gente continue vivendo na certeza de que sentiremos algumas saudades que jamais serão amenizadas. Vai ser sempre assim, um amanhecer cheio de incertezas.

Caio Polonini
12/10/2011