quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Antes que se arrebente


É, eu sei que não está fácil. Você ta segurando a corda aí de um lado e eu aqui do outro, está sendo um esforço grande pra manter ambos em pé. Eu não sei por quanto tempo ainda vamos sustentar essa história em que o “eu te amo” é uma farpa sem ponta saliente que não se pode tirar com uma pinça. Você entende o que eu quero dizer, não é? Se nossas decisões fossem simples e conseguíssemos pausar o tempo para viver esse momento e esclarecer o que de fato se passa, poderíamos respirar mais leve e resolver o que o passado trouxe para o presente. Mas olha, enquanto o tempo não explica o que se passa no interno e no externo, minha mão está aqui, estendida pra nós e da tua mão não solto até que ela perca o calor que me acolhe e ameniza o incomodo dessa farpa infeliz. A gente tá seguindo pra alguma direção, o movimento é constante, mas nossos olhares não se desgrudam, os pensamentos não se diluem, a corda não arrebentou e a dor ainda não cessou. Deixa ser. Seja como for, apenas deixa. 

Caio Polonini 

17/12/2018

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Deixa-me ir

Eu te contemplava com a mesma admiração que um artista tem por sua obra e deixava suas palavras ecoarem em meus ouvidos como um coral em uma catedral. Mal sabias que meu peito estava apertado por saber que aqueles eram os últimos segundos em que eu estaria de frente com você, pois a vida se encarregara de nos levar. Essa é a dor de quem precisa deixar um amor temporário ir embora, por não ter espaço, por não ter ar, por saber que não vai resistir e assim como uma flor, fenecer no solo que sempre a nutriu. As lembranças e sensações pulsam freneticamente, mas não há o que fazer no momento, apenas estancar essa saudade do que nunca tive de fato. Platonicamente foi lindo, vasto, comovente, um amor de cinema, porém sem pipoca, abraço no escuro e nem final feliz. Apenas final, sem rabiscos ou resquícios, vírgulas ou exclamações, as reticências flutuam e caem junto com as gotas de chuvas desta noite fria como qualquer outra já vivida. Amor de verão, amor de carnaval, amor de metrô, você se foi e eu não sei o que sobrou.

Caio Polonini

06/05/2017

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Doses de você


Pensamentos me levam tão longe que até se misturam com imaginações da minha cabeça. Às vezes me questiono sobre o que é real, inventado ou desejado, pois neste misto de sensações fico deliberando em um universo paralelo, secreto, onde me vejo quando o mundo se torna difícil.
A espera de algo ou alguém que não vai chegar, e eu já tenho essa certeza, me consome de tal maneira que fico sem entender porque faço isso comigo mesmo. Qual a razão de se perder nesta fantasia toda? Cada vez que vejo teu olhar, engulo a seco, respiro apressadamente e me exalto em um sorriso exagerado. Quero ser minha melhor versão em segundos só pra te impressionar e me enganar novamente.
Decidi tomar doses homeopáticas de você, para ver se freio essa bomba de emoções que está prestes a explodir, pois se isso acontece, meu bem, eu não vou nem saber por onde começar, com quem conversar e nem o quanto vou querer chorar. A tua ausência não pode me fazer parar no tempo!
Talvez esse estado letárgico em que me encontro seja apenas reflexo do que vive em mim: um monstro catastrófico e devorador de sentimentos que me esgota a todo momento. É, você foi embora sim, deixou os meus pedaços aqui e eu sem saber bem o que fazer. Mas me emendei e segui torto por aí, a urgência em ser feliz gritou mais alto, e eu nunca deixei de me ouvir, mesmo teimando ou insistindo em fazer o contrário, acordei deste sonho e fui viver os meus de verdade.

Caio Polonini


13/12/2018

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Sensação Clariceana


Hoje, uma manhã cinzenta e fria de sexta feira, acordei com um sentimento que não me visitava há um tempo. É uma sensação de cair de um lugar alto, descer em uma montanha russa, ficar parado no topo de uma roda gigante. Aquela coisa que antes incendiava minha alma e que há um tempo estava adormecida, me visitou. São espasmos de sensações que se misturam com o antes, o agora e a sensação de beira de abismo do depois.
Sofri como nunca por muito tempo, só mudou quando compreendi que isso já não era mais para mim. Sorri. Apesar de ser livre, ou pelo menos ter a ilusão que sou, me sinto preso em mim mesmo. É excruciante querer e não querer ao mesmo tempo, de estar extremamente feliz e perdido. Queremos tanto a liberdade que quando a temos não sabemos o que fazer... é um grito mudo que ecoa pelas paredes internas da alma e não se compreende ou se explica, apenas se sente e vive. Não tem que haver arrependimento ou culpa, pois a sensação é tão oca e instável que o passado é apagado. Talvez ninguém compreenda essas palavras, nem mesmo eu... mas elas brotam de mim em um misto de sentimentos e sensações Clariceanas.
A manhã continua estranha com cheiro de ontem e gosto de café de hoje. Um buraco negro que não se fecha e acorda quando quer sem ter motivo ou objetivo. É como aquelas fomes terríveis e sem fim que surgem de madrugada, um grito desesperador de dentro pra fora. Estou aqui e lá, tudo acontece, o tempo passa e tudo muda, mesmo parecendo estar tudo igual, muda. O tempo passa, as horas flutuam, os minutos gotejam poeticamente em mim e me fazem transbordar de vez em quando. É tão vasto e infinito que não se explica, apenas deixo o silêncio falar, pois ainda não criaram palavras para tal. São peixinhos dourados nadando nas entranhas, no estômago, no peito, pulmão e coração. Já sentiu coisa assim? Às vezes acho que sou único nessa viagem sem fim.

Caio Polonini
19/10/2018