Acendeu um cigarro e nem se quer perguntou, ou se importou, se eu fumava. Havia tanta indiferença em seu olhar, que me senti sem graça de puxar qualquer assunto. Um silêncio constrangedor perpetuava entre nós, e parecia que a qualquer momento um buraco iria se abrir no chão e eu iria sumir. Na verdade, o meu desejo era sumir mesmo, só não sabia como fazer isso ainda. O vazio estava tão repleto dele mesmo, que era possível ouvir o silêncio, e se passasse uma mosca, pequenina que fosse, seria como uma orquestra sinfônica. Não havia uma palavra se quer, menos ainda interesse em saber se eu gostava de determinado estilo musical, ou qual livro estava lendo. Até que em um momento, quando passou pela minha cabeça que ao menos iria me oferecer um copo de água, comentou que era melhor eu partir. E então, feito um pedaço de nada no meio do nada, sumi naquele buraco imaginário que eu já estava desejando há um tempo. Afundei-me em um breu danado, que por um instante achei que não teria saída, ou que o fim estivesse próximo e eu não precisaria mais me afogar. Talvez se tivesse morrido, não sentiria tanta vergonha da vida. Mas qual graça teria se tudo estivesse acabado, e eu morto e enterrado? Tô esperando essa escuridão passar pra poder ver o sol nascer de novo. É difícil se afogar e respirar ao mesmo tempo, pois nem sempre duas ações se completam tão bem como amar e sofrer.
12/01/2014