quarta-feira, 5 de outubro de 2016

O menino do espelho


Repentinamente comecei a ter lembranças de um outro momento de minha vida que consequentemente me puxaram outros e foi então que parei para observar o movimento ao redor e prestar atenção nas pessoas. É engraçado ver o mundo sob uma ótica tênue entre dois "eus". O tempo passa e a gente lembra de coisas e atitudes que não nos pertencem mais, por vezes dá vontade de gargalhar, observar como muito mudou dentro de mim, por outras vezes dá vontade de chorar, sentir saudade sem pudor. Por tantas outras vezes, falta até o ar por não poder voltar nas coisas boas que costumavam ter outros sabores. Quando envelhecemos, não sentimos mais o sabor real da nossa infância ou adolescência, isso fica na nossa memória emotiva e amargamos um pouco. Hoje eu entendo milhares de coisas que me perturbavam e descobri que não eram tão terríveis assim. O mundo daqui está bem diferente do mundo de lá, onde ter medo de certas coisas era mais simples e o fardo era mais leve. O mundo da imaginação era colorido e o espelho refletia um rostinho tão lindo de um menino com olhos grandes e curiosos para saber o que o mundo lhe reservava. Foi então que ele teve que ir para um outro mundo viver suas aventuras, o que não foi de todo o mal, pois só assim compreendeu que o saber é uma busca constante.
Hoje esse menino reflete outra imagem, com marcas e mudanças necessárias para crescer. Ah... e a saudade? Esta pulula no peito e traz sorrisos e suspiros de um amor gostoso que aquece a alma e mareja os olhos. Mas o que se pode fazer se o tempo passa e um dia nunca é igual ao outro? 
Eu vivo em uma poesia rodeada de verdades que me assombram, mas que ao mesmo tempo me fazem seguir e sorrir. O menino do espelho está em mim, em um emaranhado de amor e travessuras que despertam a inocência perdida em um susto. Pois em um susto se morre, e o que fica é um sopro. 

Bruno Akimoto
05/10/2016

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