sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Sensação Clariceana


Hoje, uma manhã cinzenta e fria de sexta feira, acordei com um sentimento que não me visitava há um tempo. É uma sensação de cair de um lugar alto, descer em uma montanha russa, ficar parado no topo de uma roda gigante. Aquela coisa que antes incendiava minha alma e que há um tempo estava adormecida, me visitou. São espasmos de sensações que se misturam com o antes, o agora e a sensação de beira de abismo do depois.
Sofri como nunca por muito tempo, só mudou quando compreendi que isso já não era mais para mim. Sorri. Apesar de ser livre, ou pelo menos ter a ilusão que sou, me sinto preso em mim mesmo. É excruciante querer e não querer ao mesmo tempo, de estar extremamente feliz e perdido. Queremos tanto a liberdade que quando a temos não sabemos o que fazer... é um grito mudo que ecoa pelas paredes internas da alma e não se compreende ou se explica, apenas se sente e vive. Não tem que haver arrependimento ou culpa, pois a sensação é tão oca e instável que o passado é apagado. Talvez ninguém compreenda essas palavras, nem mesmo eu... mas elas brotam de mim em um misto de sentimentos e sensações Clariceanas.
A manhã continua estranha com cheiro de ontem e gosto de café de hoje. Um buraco negro que não se fecha e acorda quando quer sem ter motivo ou objetivo. É como aquelas fomes terríveis e sem fim que surgem de madrugada, um grito desesperador de dentro pra fora. Estou aqui e lá, tudo acontece, o tempo passa e tudo muda, mesmo parecendo estar tudo igual, muda. O tempo passa, as horas flutuam, os minutos gotejam poeticamente em mim e me fazem transbordar de vez em quando. É tão vasto e infinito que não se explica, apenas deixo o silêncio falar, pois ainda não criaram palavras para tal. São peixinhos dourados nadando nas entranhas, no estômago, no peito, pulmão e coração. Já sentiu coisa assim? Às vezes acho que sou único nessa viagem sem fim.

Caio Polonini
19/10/2018

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