segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Deixa-me ir

Eu te contemplava com a mesma admiração que um artista tem por sua obra e deixava suas palavras ecoarem em meus ouvidos como um coral em uma catedral. Mal sabias que meu peito estava apertado por saber que aqueles eram os últimos segundos em que eu estaria de frente com você, pois a vida se encarregara de nos levar. Essa é a dor de quem precisa deixar um amor temporário ir embora, por não ter espaço, por não ter ar, por saber que não vai resistir e assim como uma flor, fenecer no solo que sempre a nutriu. As lembranças e sensações pulsam freneticamente, mas não há o que fazer no momento, apenas estancar essa saudade do que nunca tive de fato. Platonicamente foi lindo, vasto, comovente, um amor de cinema, porém sem pipoca, abraço no escuro e nem final feliz. Apenas final, sem rabiscos ou resquícios, vírgulas ou exclamações, as reticências flutuam e caem junto com as gotas de chuvas desta noite fria como qualquer outra já vivida. Amor de verão, amor de carnaval, amor de metrô, você se foi e eu não sei o que sobrou.

Caio Polonini

06/05/2017

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